quinta-feira, 23 de junho de 2011

I CHING O LIVRO DAS MUTAÇÕES



I CHING - O LIVRO DAS MUTAÇÕES

Há milhares de anos o I Ching é utilizado como oráculo e conselheiro, servindo imperadores e pessoas comuns de modo imparcial. Segundo os sábios, ele pode abrir as portas do autoconhecimento e funcionar como uma chave para a compreensão do universo.
As lendas chinesas dizem que o I Ching - O Livro das Mutações surgiu num período mítico do tempo, mas a história afirma que os textos e comentários mais antigos datam do período em que teriam vivido o Rei Wen e seu filho, o Duque Chou, no século XII a.C.. A autoria do I Ching clássico é creditada ao Rei Wen e acredita-se que os comentários foram um acréscimo do sábio Confúcio (551-479 a.C.), quando de seu famoso estudo sobre o Livro das Mutações.
Para grande parte dos pesquisadores, o famoso milenar oráculo é um produto do amadurecimento sócio-cultural da China nos últimos 3000 anos. Tudo o que aconteceu de importante nesse período foi de alguma maneira adaptado e acrescentado à obra. Vários estudiosos do Oriente e Ocidente têm se debruçado sobre suas páginas com o objetivo de estudá-lo e compreender melhor os textos que, muitas vezes, tornam-se enigmas de difícil entendimento devido à linguagem rebuscada do chinês antigo.
O I Ching também teve grande influência sobre toda a filosofia chinesa, principalmente o Taoísmo e Confucionismo — duas das principais linhas de pensamento chinês. Mas essa influência não se restringiu à filosofia apenas, estendendo-se ao governo, música e artes plásticas. Várias obras foram inspiradas nas idéias contidas no oráculo e decisões de Estado foram tomadas com base no julgamento que ele apresentava.
O Livro das Mutações é tão considerado pelos chineses que foi a única obra que sobreviveu à queima de escritos e livros no período de Ch'in Shih Huang Ti, quando desapareceram dezenas ou centenas de obras que poderiam esclarecer diversos pontos da história do Extremo Oriente.
Os textos e comentários do I Ching foram trazidos ao ocidente por James Legge, em seu livro The Sacred Book of the East, XVI: The I King, editado em 1882. Foi ele quem utilizou pela primeira vez os termos trigrama (três linhas dispostas de forma vertical representando, respectivamente, de baixo para cima: a terra, o homem e o céu) e hexagrama (dois grupos de trigramas verticais), posteriormente adotados em todos os escritos sobre o tema. Mas o grande responsável pela divulgação do no ocidente foi Richard Wilhelm em sua obra I Ching - O Livro das Mutações, publicado no Brasil pela Editora Pensamento. O volume traz comentários do ilustre Carl Gustav Jung, que se apaixonou pelo que ali está escrito, e dedicou-se ao seu estudo e compreensão durante toda a vida.
Quando os filósofos e intelectuais do Ocidente descobriram livro, começaram a perceber a grande sabedoria contida em suas palavras, que revelavam uma forma inovadora de lidar com a vida e o ser humano. A maneira como o Extremo Oriente era visto até então mudou radicalmente, com a profundidade filosófica da obra comparada aos textos de Platão e Sócrates. Não apenas isso, segundo alguns estudiosos, o I Ching pode até mesmo ser comparado a outros livros sagrados da humanidade, como a Bíblia e a Torah.

Visão Errada
O uso do Livro das Mutações como oráculo sempre foi muito controverso. De maneira geral, as pessoas buscam no sobrenatural uma resposta para seus questionamentos e dúvidas, acreditando que o mundo espiritual tem todas as soluções que elas necessitam. Com o I Ching, as coisas não são bem assim.
O Livro das Mutações não é somente um oráculo, mas também um oráculo. No ocidente, vários erros e abusos foram cometidos como resultado de uma visão estereotipada sobre ele. Na maior parte das vezes, a obra serve somente como um guia, mostrando qual direção seguir ou indicando percalços e vantagens possíveis de cada caminho. A busca por verdades espirituais é um desenvolvimento pelo qual todas as sociedades humanas já passaram. As idéias por trás das linhas que compõem os hexagramas demonstram isso. Crê-se que inicialmente uma linha inteira (––) que hoje representa a idéia do yang, significaria antigamente um 'sim', e uma linha quebrada (– –), yin, um 'não'.
Essas respostas serviriam para perguntas simples. No entanto, com o passar do tempo foi desenvolvido um conjunto de símbolos mais complexos, que iria culminar nos trigramas e, por fim, nos hexagramas. Os trigramas possuem nomes que refletem aspectos da filosofia chinesa do yin e yang: O Criativo, O Abissal, O Receptivo, O Incitar, A Suavidade, O Aderir, A Alegria, A Quietude. Ao se juntarem, eles compõem os 64 hexagramas que formam o corpo do I Ching.
Cada hexagrama traz um conjunto de explicações e conselhos com o intuito de ajudar a pessoa a achar o melhor caminho para suas ações. A interpretação correta dos hexagramas parte da idéia de que tudo está interligado: a terra, o homem e o céu têm de agir em harmonia para que seja possível atingir a harmonia entre a nossa vida e a de quem nos cerca.
A consulta tradicional do oráculo geralmente é feita com 50 varetas de milefólio (um tipo de árvore considerada mágica), mas envolve uma série de rituais que, se cumpridos rigorosamente, estendem o tempo de cada consulta para mais de uma hora — o que a torna cansativa e reservada apenas a determinadas ocasiões. O método mais comum entre os praticantes é o das moedas que, embora simples, permite obter facilmente o trigrama correspondente.
Esse método consiste em escolher três moedas, que serão jogadas ao mesmo tempo. Cada lado terá um valor numérico que, ao ser somado, resultará na linha yin ou yang correspondente. Costuma-se atribuir o valor 3 (yang) para cara e 2 (yin) para coroa. Após 6 jogadas, o hexagrama estará formado e a resposta pode ser procurada no livro.
Esse conjunto de linhas pode revelar um ponto essencial no estudo do I Ching como oráculo. Quando uma linha do hexagrama contém em si somente o yang (3+3+3 = 9) ou o yin (2+2+2 = 6) diz-se que ela é móvel ou velha. Nesse caso, ela se transforma no seu oposto. Uma linha yin móvel passa a ser yang jovem, e vice-versa. Com isso, além do hexagrama inicial, temos a sua conseqüência ou rumo mais provável que os acontecimentos tomarão.
Na China, acredita-se que o oráculo nunca falha, respondendo sempre de maneira clara e concisa. Quando a resposta se mostra enigmática a culpa é de quem está consultando, pois não formulou a pergunta corretamente. Todas as barreiras para entender as respostas estão em nossa mente e, se não se consegue compreendê-las, a culpa é só nossa.

A Filosofia do I Ching
Os princípios filosóficos contidos no Livro das Mutações estão de tal forma integrados à vida intelectual da China que podem ser encontrados nas mais variadas formas de expressão cultural do país.
Como os habitantes daquele país sempre foram muito dependentes da agricultura, para eles é natural a necessidade de observar a mudança das estações, os períodos mais propícios ao plantio e, em especial, as relações entre o homem e o meio-ambiente. Essas exigências influenciaram também a filosofia contida no I Ching.
Inicialmente, a idéia do yin e yang foi elaborada com base nesses princípios. Sob a ótica das duas energias contrárias, os filósofos antigos podiam analisar e classificar o universo. O positivo, yang, o negativo, yin, formariam todas as coisas conhecidas ou ainda por conhecer. Essa noção surgiu em tratados filosóficos de pensadores de outros povos, mas na China ela foi um pouco mais longe. Lá eles acreditavam que mesmo o yin ou o yang mais puro conteria em si a semente de seu oposto. Para os chineses, nada continua como está, pois o caminho da natureza é a mutação: a riqueza possui em seu cerne a pobreza, o progresso contém a semente da decadência, o orgulho traz a queda e assim por diante. Esse é principal ensinamento contido no Livro das Mutações.
A própria idéia por trás dos oito trigramas incorpora esse sistema. Na verdade, eles representam estados de transformação — a energia yang do Criativo se transforma no yin do Receptivo, e assim por diante. Nada no contexto do I Ching pode ser visto de forma isolada, mas como relações entre as forças e energias que compõem o homem e a criação.
Outro ponto exposto nas leituras do I Ching é que os acontecimentos nascem antes no plano das idéias, manifestando-se no mundo material somente após algum tempo. Isso foi exposto e adotado pelos dois maiores pensadores chineses, Confúcio e Lao Tse, idéia que posteriormente seria abordada, embora com novo enfoque, por Jung em suas argumentações sobre o inconsciente coletivo e a sincronicidade, derivadas de seus estudos do oráculo chinês.
Um fator interessante nas idéias do I Ching é a capacidade do ser humano mudar o curso dos acontecimentos. Na maior parte das culturas e religiões, o homem é visto como um mero espectador dos desígnios do destino. No Livro das Mutações ele é co-autor do destino, influenciando sua vida por meio do conhecimento das forças yin e yang, quando necessário.
O I Ching tem como objetivo maior conduzir o homem a uma ação harmônica com o Tao (o Caminho Real). Para tornar isso mais efetivo, ele fornece uma visão abrangente da vida e das experiências humanas, permitindo que o homem assuma a responsabilidades por suas ações e se torne seu próprio soberano. Há mais de três mil anos, o livro já apresentava uma abordagem da vida e das relações entre os seres que, no final do século XX, tornou-se comum e conhecida como a visão holística do universo. Muito antes dos autores modernos afirmarem que o homem deveria ser visto como um todo, os sábios chineses não apenas já conheciam o conceito, como tinham elaborado um caminho prático para isso.

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