terça-feira, 20 de setembro de 2011

ARCANJO MIGUEL




ARCANJO MIGUEL

Será que existe algum atributo de São Miguel Arcanjo que o relacione com os significados admitidos tradicionalmente pela sã astrologia para o signo da Balança, e que assim justifique o estabelecimento de sua festa no dia 29 de setembro, logo após a entrada do sol nesse signo equinocial?
São Miguel é o príncipe da milícia celestial, o guerreiro de Deus; aquele que combate Satanás desde o princípio dos tempos. E, ainda sabem também (e muito bem) que o nome do arcanjo Mikael, (que significa em hebraico "Quem é como Deus?"), era o grito de guerra dos anjos bons, durante a batalha celeste contra o Trevoso Adversário e seus seguidores. Apesar disso, permitam-me contribuir com mais outras importantes informações sobre o santo, que encontrei, tanto no Antigo como Novo Testamento:

Daniel X; 13 - "Porém o príncipe do reino dos persas resistiu-me durante vinte e um dias; mas, eis que veio em meu socorro Miguel, um dos primeiros príncipes, e eu fiquei lá junto ao rei dos persas". (Um anjo contando ao profeta Daniel porque demorou a encontrá-lo. Ensinam os doutos comentadores que, nesse texto, onde se lê príncipe, entenda-se anjo).

Daniel XII; 1 - "Naquele tempo, surgirá Miguel, o grande chefe, o protetor dos filhos do teu povo. Será uma época de tal desolação, como jamais houve igual desde que as nações existem até aquele momento. Então entre os filhos de teu povo, serão salvos todos aqueles que estiverem inscritos no livro". (A frase é de um anjo que relata a Daniel uma notícia sobre o final do mundo).

Epístola de S. Judas I; 9 - "Ora, quando o arcanjo Miguel discutia com o demônio e lhe disputava o corpo de Moisés, não ousou fulminar contra ele uma sentença de execração, mas disse somente: - Que o próprio Senhor te repreenda". (O texto alude a uma antiga tradição judaica sobre a disputa havida entre Miguel e Satã em torno do corpo de Moisés. São Miguel escondeu o túmulo de Moisés. Mas, Satã o encontrou e depois de abri-lo tentou induzir o povo judeu ao pecado de adoração a um herói).

Apocalipse XII; 7 - "Houve uma batalha no céu. Miguel e seus anjos tiveram de combater o dragão. O dragão e seus anjos travaram combate, mas não prevaleceram".(2)

Pois bem, fiéis a essas indicações das escrituras sagradas, os cristãos atribuem a São Miguel Arcanjo as seguintes tarefas: 1- Combater Satã e os poderes das trevas. 2- Resgatar as almas dos fiéis que estejam sob o domínio do demônio, especialmente na hora da morte. 3- Ser o protetor e defensor do povo de Deus, o que inclui tanto os judeus no Antigo Testamento quanto os cristãos no Novo. 4- Conduzir as almas dos mortos da terra para o julgamento celeste e dele participar avaliando os vícios e virtudes de cada uma.

Esses aspectos guerreiros e justiceiros de São Miguel Arcanjo contribuíram decisivamente para que ele se tornasse um santo popularíssimo, protetor dos valentes, patrono das antigas ordens medievais de cavalaria e, coerentemente, também padroeiro dos lutadores de capoeira no Brasil moderno. O que explica, em parte, a estrita devoção de Zé Micondó.

Para completar, ajunto ainda breve, porém importantíssima, notícia iconográfica.



Na arte sacra, essas características de São Miguel, o campeão da justiça, se manifestam através de suas representações como um anjo guerreiro, nas quais ele aparece usando um elmo, empunhando uma espada fulgurante e portando um escudo (onde quase sempre se encontra inscrito em latim o seu nome, Quis ut Deus?), e ainda sujeitando um dragão ou demônio, o qual, em muitas ocasiões, ele transpassa com uma lança. Relata-se ainda outro notável objeto, que deixei por último por se afigurar reveladora surpresa: o santo também segura uma balança, na qual, diz a tradição, ele pesa as almas dos mortos.
Coincidência entre a balança do anjo e a do signo, que lhes garanto não é a única, pois na verdade existem outras mais extraordinárias convergências entre o arcanjo e o simbolismo tradicional do signo de Libra, as quais refiro em seguida.

Observem que dentre os diversos modos possíveis de divisão do ciclo zodiacal existe um que se inicia em Áries e tem sua metade exatamente no signo equinocial de Libra, momento em que se dá um perfeito equilíbrio entre a duração do dia e a da noite. Assim, pode-se dizer que, dentro do simbolismo do zodíaco, o processo de desenvolvimento das possibilidades cósmicas que tem seu início representado por Áries, depois de se completar em Virgem, começa seu retorno à origem no signo da Balança, cujos pratos nivelados figuram o equilíbrio entre as forças luminosas do crescimento e as forças escuras de dissolução que começarão a se manifestar a partir daquele momento. Notem que existe implícita aí uma iminente ruptura do equilíbrio que favorecerá o princípio da escuridão.

Marcelle Sénard (3) concorda com essas observações quando afirma que: "a Balança, é o signo do equilíbrio na associação e na relação dos opostos complementares. Como este é um signo do zodíaco, isto é, do esquema dos movimentos das Energias, a Balança representa evidentemente o equilíbrio dinâmico, equilíbrio no movimento incessante de criação, de dissolução e de recriação das formas do universo".

Advirtam que essas características iniciais do signo de Libra descrevem as qualidades de um tempo cíclico que, de modo extraordinário, simboliza perfeitamente à primeira das missões de São Miguel que é enfrentar os poderes das trevas, representados na simbólica cristã pelos demônios. Para o perene, verdadeiro e sadio simbolismo da astrologia, Libra ou a Balança, o segundo signo do elemento ar, simboliza, antes de tudo, o princípio ordenador/regulador do cosmo, (reflexo da imutabilidade da Origem Suprema), que se manifesta no Mundo por meio dos conceitos de harmonia e equilíbrio. As regências comumente admitidas pelos astrólogos para esse signo - paz, justiça, direito, arte, beleza, temperança; e por extensão: diplomacia, alianças, adaptabilidade, conciliação, refinamento, compromissos, etc. - são as aplicações secundárias deste simbolismo cósmico, na ordem imediata da existência física humana.

Ora, já sabemos que Miguel, considerado o Anjo do Julgamento, carrega uma espada e uma balança que são os atributos próprios dos Reis e Deuses de Justiça nas mais diversas culturas. Esses dois objetos simbolizam na ordem social, respectivamente, as funções administrativa e militar exercidas pela casta dos guerreiros. Assim sendo, o arcanjo Miguel detém o poder, (figurado pela espada), que faz reinar a justiça, a qual segundo o simbolismo do signo de Libra explicado anteriormente, é uma exteriorização dos conceitos de equilíbrio e harmonia, representados pela balança zodiacal.

Além disso, é evidente que além da justiça e da paz, todos os outros principais atributos do signo relacionados anteriormente se ajustam à figura do santo, especialmente os seguintes: princípio regulador e ordenador, equilíbrio de opostos e também, sem nenhuma dúvida, a harmonia e o direito.

Depois de assim costuradas as relações entre o Anjo e o signo, com o bom fio das comparações, mostro o nó final do arremate. Notem que a festa do santo foi localizada sete dias depois da data exata do equinócio para por ainda mais em evidência o seu significado, pois só tem sentido a atuação reguladora e reequilibrante do santo justiceiro, quando o perfeito equilíbrio entre treva e luz, já está completamente rompido. Ora, não estão ainda convencidos?

Sei. Resta-lhes argumento: a agressividade do guerreiro não se ajusta com o signo de Libra, regido por Vênus, que afinal de contas é a deusa do Amor.
Sem delongas, refuto-o.

Foi já antes mostrado, de modo líquido e certo, que tanto a justiça quanto a paz são atributos comuns ao signo e ao Arcanjo. Em certo sentido, é evidente que a misericórdia se relaciona com a paz. Mas, não esqueçam que o rigor se relaciona com a justiça. Desse modo, é devido a sua misericórdia por aqueles que estão sob o domínio do maligno, que o santo guerreiro levanta a mão do rigor e aniquila com espada e lança o dragão da maldade, preenchendo assim a segunda das quatro funções atribuídas a ele pela tradição. O Arcanjo Miguel exerce, portanto, não só a misericórdia, mas também o rigor e, sem dúvida, estes dois aspectos estão representados nos dois pratos da balança com a qual, segundo a tradição cristã, ele pesará as almas dos mortos no Juízo Final e separará os eleitos dos condenados. Não existe, portanto, nenhum antagonismo entre o tipo de agressividade do anjo guerreiro e as características do signo de Libra.

E, finalmente, quanto a uma suposta incompatibilidade entre Vênus, regente do signo de Libra, e os guerreiros, sabem muito bem, que é pelo Amor de sua dama que eles realizam seus feitos e aventuras. Diz mesmo a sabedoria popular que atrás de qualquer grande homem existe sempre uma maior mulher; e são inúmeros os mitos, lendas e relatos iniciáticos sobre os guerreiros, onde predomina o simbolismo do Amor. As histórias do ciclo do Graal, protagonizadas pelos cavaleiros do Rei Artur, estão repletas de exemplos que comprovam isso. Completada a contestação, aceitem, por favor, o senhor e a senhora, que essa série de comparações e raciocínios, apesar de incompleta e mesmo às vezes canhestra, terminou por iluminar a resposta afirmativa à nossa pergunta inicial.

Sim, os sábios calendaristas cristãos escolheram o dia 29 de setembro - do tempo laico e sucessivo - para a realização dos ritos da festa do Arcanjo Miguel, guiados pelas leis astrológicas sobre o tempo cíclico, que estão refletidas no caminho anual do sol pelo zodíaco. Essa comprovação mostra, também, que a determinação da correta qualidade do tempo para a realização dos ritos é uma das mais nobres funções da astrologia, pois quando ela a preenche corretamente fornece ao ritual um elemento decisivo que facilita uma manifestação impecável das influências espirituais representadas pelos símbolos, as quais, através da participação dos fiéis, transformam em sagrado o tempo comum. Por conseqüência, em cada festa de um santo, a dimensão atemporal e eterna, contida no seu simbolismo, pode ser invocada, vivida ou pressentida pelos devotos. Ordena-se assim o fluxo frenético dos tempos e cria-se, então, uma limpidez na torrente do devir que é, simultaneamente, uma bênção e uma janela através das quais se pode contemplar a estabilidade imóvel do eterno.

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